Lagom foi um dos primeiros termos suecos que aprendi quando me mudei para Estocolmo, mas confesso que demorou muito para fazer sentido na minha vida, hoje vou compartilhar com você o que podemos aprender com o estilo de vida sueco.
Nem pouco, nem demais, apenas o suficiente.
Acredito que seja o significado mais próximo da palavra Lagom.
De acordo com a etimologia, “lag” quer dizer “lei” no sueco antigo, mas existe a lenda de que o termo tenha se originado de uma abreviação da expressão viking “laget om”, que quer dizer ao redor da equipe. O termo era usado quando os vikings se reuniam ao redor da fogueira e todos compartilhavam a mesma bebida, ninguém bebia mais ou menos que o outro, mas a mesma quantidade.
Lagom, na verdade, é a busca pelo equilíbrio, e essa busca vem desde as antigas civilizações. É a consciência de que o exagero é prejudicial, não só para o indivíduo, mas para a sociedade.
Para quem vem de fora é muito complicado entender o lagom, muitas vezes é confundido com indiferença ou frieza por parte dos suecos.
Os suecos não falam muito, pelo menos comparando com outras pessoas [de outras culturas]. Se lhes fizermos uma pergunta, eles vão responder “sim” ou “não”. Num contexto diferente, nós responderíamos “sim, porque…”. Nós justificaríamos a nossa resposta, enquanto os suecos levam a linguagem à letra.
Linnea Dunne, autora do livro Lagom, a arte sueca para uma vida equilibrada. Entrevista ao Observador.
O lagom está tão enraízado na cultura sueca, que muitas vezes nem os suecos conseguem explicar como praticar o lagom no dia a dia. E o que mais me encanta é que o lagom ultrapassa a vida particular, ele se aplica na sociedade também.
Na Suécia existe a redistribuição de riqueza, os ricos aqui pagam impostos exorbitantes, quanto mais você ganha dinheiro, mais imposto você paga. Por isso muitos dos serviços acabam sendo subsidiados pelo governo, saúde, educação, o que permite que todas as pessoas tenham acesso aos mesmos hospitais, às mesmas escolas e universidades. Todos têm a mesma oportunidade, o filho do cirurgião e o filho do auxiliar de limpeza.
Os suecos também são educados para serem pessoas independentes, meninos e meninas aprendem na escola como cuidar da casa, como lidar com finanças. São criados para sobreviverem sozinhos no mundo e administrarem uma empresa, mas a realização pessoal passa longe de ser uma questão financeira ou de status. Os suecos não se sentem à vontade para falar de salários e não gostam de ostentar o que possuem.
Na Suécia, as pessoas não falam sobre dinheiro e não compram carros exuberantes para mostrar que têm muito dinheiro. É ótimo que as pessoas sejam confiantes e felizes, que sigam os seus sonhos, mas o objetivo final não é que alguns indivíduos brilhem, mas sim que esta seja uma boa sociedade, onde todos possam ser felizes a viver em harmonia.
Linnea Dunne, autora do livro Lagom, a arte sueca para uma vida equilibrada. Entrevista ao Observador.
Mas como praticar o lagom no dia a dia?
Acho que a prática que mais exemplifica o lagom é o Fika, a pausa para o café. O fika pode acontecer durante o trabalho, em casa sozinho ou na companhia de um vizinho. As pausas para um café durante o dia são fundamentais para arejar a mente, descansar e consequentemente se tornar uma pessoa mais produtiva.
Outro hábito é a reciclagem, mais de 80% dos suecos acreditam que reciclar o lixo é importante e traz benefícios para o meio ambiente e para a sociedade. Tem um post sobre reciclagem aqui.
O equilibrio entre a vida pessoal e a vida profissional também é muito valorizado por aqui. É muito raro ver funcionários até altas horas dentro do escritório querendo mostrar produtividade. Os suecos são muito práticos, buscam otimizar suas tarefas durante o dia e deixam para o dia seguinte o que não foi possível resolver durante o expediente (sem nenhuma culpa). Entre às 17 e 18h todos voltam para suas casas, às vezes param em algum parque para aproveitar o sol da primavera ou do verão.
Além disso, os suecos não gostam de misturar as coisas, por exemplo, amigo é amigo e colega de trabalho é colega de trabalho. Quarto é para dormir e sala é para ver tv e receber os amigos. Sério, é muito raro ver um sueco convidar um colega de trabalho para visitar sua casa e mais raro ainda é ver uma televisão no quarto de um sueco. A impressão que eu tenho é que é tudo muito funcional e prático.
Dizer não também é algo muito comum por aqui. No Brasil temos a mania de dizer “vou ver se consigo”, “vamos marcar”, “pode deixar que eu faço”, e isso não acontece por aqui. Se você convida um sueco para um almoço ele pode dizer simplesmente um não, caso ele já tenha um compromisso ou simplesmente queira ficar em casa vendo netflix. Eles não se preocupam em inventar desculpas, o que poupa o tempo de todo mundo, o que para nós brasileiros pode soar bem rude e grosseiro para eles é apenas praticidade.
Falar alto, gargalhar, gesticular também são coisas que passam longe da realidade de muitos suecos, eles são bem mais discretos e reservados do que os brasileiros, que gostam de exagerar e performar durante o bate-papo.
Bônus: uma vez o Vinicius perguntou para uma colega de trabalho sueca o motivo dos suecos reclamarem tanto do tempo, a resposta foi bastante curiosa e talvez tenha um pouco a ver com o termo lagom. Segundo ela, os suecos partem do príncipio de que todos são iguais, que todos têm os mesmos direitos, as mesmas oportunidades e os mesmos acessos. Logo, reclamar da própria vida não faz sentido, porque detalhes particulares da vida de alguém não é mais importante do que a vida do outro, assim eles preferem reclamar de algo que todos têm em comum e que não pode ser alterado, o clima.
O que achou do lagom? Comenta aqui se você praticaria ou não 😉
Conceito muito interessante, vale a pena refletir. Parece-me a busca de equilíbrio, e uma sociedade mais justa. Fiquei curiosa sobre a cultura sueca. Ótimo post.
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