Adaptação escolar

Antes de contar como foi a adaptação escolar da Violetinha eu vou resumir como funciona o sistema educacional por aqui.

A Suécia é um dos países que mais investe em educação e por isso assegura os direitos básicos a todos os estudantes, independente de classe social, etnia ou nacionalidade. As escolas são gratuitas e oferecem material didático, produtos de higiene e refeições (aqui não precisamos levar fralda, leite, material escolar, eles fornecem tudo). Ah, aqui também tem bastante escolas particulares, elas vêm aumentando desde a década de 1990, mas para os pais das crianças elas são gratuitas, todas são subsidiadas e controladas pelo Estado.

A estrutura é um pouco diferente do Brasil. Aqui a pré-escola (Förskola) atende crianças de 1 a 6 anos e o ensino básico é obrigatório dos 7 aos 16 anos, e equivale ao ensino fundamental no Brasil.

O ano letivo começa no outono, em agosto e vai até o Natal, o segundo semestre se inicia em janeiro após o Ano Novo e termina em junho.

Como escolhemos a escola da Violeta?

Depois que recebemos o ID-Kort (vai ter post sobre ele em breve), nos cadastramos no site da prefeitura de Estocolmo. No sistema escolhemos as cinco escolas mais próximas de casa, as que nos interessavam, claro, e selecionamos a ordem de prioridade. Fizemos o cadastro da Violeta no meio das férias de verão e em menos de uma semana ela já tinha a sua vaga na turminha de 1 a 3 anos (ela tinha acabado de completar 2 anos) garantida para o início do ano (agosto).

Escolhemos uma escola pequena, que tinha uma fila de espera um pouco maior do que as outras, fila de espera sempre significa que o lugar é bom. Você também pensa assim?

A primeira semana

Em agosto recebemos um e-mail da pessoa responsável pela adaptação da Violeta no qual ela explicava como as coisas iriam funcionar na primeira semana. A adaptação duraria quatro dias e um dos responsáveis teria que ficar com ela das 9h às 11h.

Foto: Bia Oliver

No primeiro dia me falaram para ficar ao lado dela, brincar, fazer as atividades e tudo mais. Como a Violetinha já tinha frequentado a escola em São Paulo e provavelmente estava com saudade do ambiente escolar ela se realizou. A partir do segundo dia já deixei ela mais a vontade, no terceiro dia fiquei olhando de longe, no quarto dia a professora me escondeu em uma sala e a Violeta nem sentiu a minha falta. No quinto dia ela ficou das 9h às 14h30 na escola tranquilamente.

Desenvolvimento

Nós escolhemos uma escola sueca porque pretendemos ficar bastante tempo por aqui e achamos importante que a Violeta seja integrada à sociedade. A adaptação, apesar do idioma completamente estranho, foi super tranquila.

Foto: Bia Oliver

Em menos de um mês uma das professoras me chamou para conversar na saída e perguntou se eu estava de acordo de transferirem a Violeta para a turma das crianças maiores (de 3 a 6 anos). A professora disse que ela já estava entediada com os bebês, que ficava pedindo tinta e papel todos os dias, posso dizer que a mudança foi a melhor opção. A Violeta se desenvolveu muito mais rápido, passou a falar mais, a cantar, a brincar e a fazer mais arte do que o normal.

Foto: Bia Oliver

Hoje a Violeta já tem uma chavinha dentro da cabecinha dela que avisa que ela deve usar o sueco na escola e o inglês e o português em casa. Às vezes ela mistura tudo, mas tem conseguido melhorar o vocabulário nos três idiomas bastante rápido. E não, eu não entendo quando ela fala sueco, apenas algumas coisas que a gente deduz através dos gestos que ela faz.

O primeiro semestre

Posso dizer que o primeiro semestre me deixou bastante satisfeita. A Violeta aprendeu a importância da reciclagem e agora ela tem mania de jogar tudo no lixo certo, reconhece as caçambas de coleta de material reciclado nas ruas. Ela também aprendeu que no corpo dela ninguém pode colocar a mão sem permissão e quando eu tento apertar a barriga dela ela grita: Nej, my barriga! (Não, minha barriga!), sueco, inglês e português na mesma frase, mas faz parte.

Foto: Bia Oliver

Ela também aprendeu que no mundo tem diferentes países e que na ONU tem uma Convenção que defende o direito das crianças, e que todas as crianças deveriam ter seus direitos garantidos.

Ah, ela também sabe que quando um adulto tenta tirá-la de algum lugar a força ela deve gritar por ajuda. E sim, ela ficou gritando “hjälp” (help / socorro) quando eu a peguei no colo a força para vir para casa. E quando chamamos a atenção dela ela também chora e pede ajuda na esperança de algum vizinho socorrê-la eu acho.

Aqui as crianças aprendem desde cedo a pedir ajuda em caso de abuso doméstico, e apesar das vergonhas que a gente passa eu fico tranquila em saber que se algo acontecer ela vai gritar e vai gritar bem alto até alguém ouvir. Quem dera todas as escolas pudessem ensinar isso para as crianças, não é mesmo? Afinal, a maioria dos abusos infantis acontecem dentro de casa e são cometidos por adultos conhecidos da criança.

Outra coisa que me deixa feliz é ver o encantamento da Violeta pela arte. Na escola ela tem acesso a tintas, material de artesanato (ela ama fazer pulseiras de miçangas), sala de fantasias, liberdade para dançar, cantar, se fantasiar.

E é tão bom ver que ela está tendo contato com crianças de outros lugares do mundo. Na escola dela tem espanhol, argentino, árabe, estoniano, finlandês. As crianças não são preconceituosas, todas aprendem que têm o mesmo valor e a mesma voz. Eu acho isso incrível e você?

1 comentário Adicione o seu

  1. Edna disse:

    Muito legal o artigo.

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